Como funcionava a quadrilha de tráfico de animais silvestres que faturou R$ 5 milhões em um ano
Polícia prende 47 em operação contra tráfico de animais silvestres e salva 800 bichos Uma investigação de mais de um ano da Delegacia de Proteção ao Mei...

Polícia prende 47 em operação contra tráfico de animais silvestres e salva 800 bichos Uma investigação de mais de um ano da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) revelou como funcionava um esquema interestadual de tráfico de animais silvestres. A operação São Francisco de Assis, apontada como a maior contra esse crime na história do país, prendeu 47 pessoas na terça-feira (16) e apreendeu cerca de 800 animais. A organização criminosa, com vínculo direto com a facção Comando Vermelho, tirava animais de seus habitats naturais no Nordeste, Norte e Centro Oeste do Brasil, além de Minas Gerais, no Sudeste. Filhotes de papagaio eram vendidos em caixas em esquema de tráfico de animais Reprodução Com alto poder de investimento e proteção armada garantida pelo Comando Vermelho, o grupo faturou R$ 5 milhões em apenas um ano, segundo as investigações. Apenas um vendedor teria vendido 45 mil animais nesse período. O chefe da quadrilha, segundo a polícia, é o traficante Leandro de Jesus, conhecido como Sheik, preso no ano passado. Ele operava como um "atacadista" de animais, realizando compras de grande volume de animais silvestres, investindo capital significativo na aquisição, no custeio de "frete" e na alimentação dos animais para venda. Arte tráfico de animais silvestres Dhara Assis/Arte g1 Além do tráfico de animais, ele encomendava e participava do processo de falsificação de documentos para ocultar a origem ilícita dos animais e atuava na compra e venda de armamentos e munição. A organização criminosa operava por meio de diversos segmentos: Caçadores (mateiros): realizavam a captura em larga escala. Atravessadores: transportavam os animais até os centros urbanos. Falsificadores: produziam documentos e selos públicos falsos para “esquentar” a origem dos animais. Núcleo de armas: fornecia armamento e munições para a proteção das atividades ilegais. Consumidores finais: foram identificados diversos compradores que alimentavam o mercado clandestino. O delegado André Prates, titular da DPMA, explicou como eram as funções de cada um desses grupos na organização criminosa, citando o exemplo de como eram capturadas as aves vendidas pelos traficantes de animais: "Tinham mateiros que recolhiam, no extrativismo animal, centenas de ovos de aves que estavam prestes a nascer. Eles forçam o nascimento abrupto dessas aves através de câmaras luminosas em estufas improvisadas, e elas são alimentadas para ter o mínimo de resistência", disse o delegado. "Os animais são colocados em boleias de caminhão por outro grupo e levados para centros urbanos. Quando chegam no Rio de Janeiro, são receptados por essas lideranças que a gente conseguiu prender", acrescentou. "Esses receptadores regionais recebem centenas de animais e distribuem para receptadores locais, até que esses animais chegam nas feiras livres e feiras virtuais por supostos amantes de animais. " Segundo a polícia, primatas, araras e tartarugas eram os principais animais vendidos no esquema. Macaco-prego em foto enviada por vendedor a comprador Reprodução De acordo com o delegado André Prates, a aproximação do verão faz com que o tráfico de animais se intensifique, já que é o momento da época de reprodução de várias das espécies vendidas no esquema. “A gente observou a grande quantidade de araras Canindés. Várias delas vêm do Nordeste para serem vendidas na feira de Duque de Caxias, na feira da Pavuna, na Maré, na Favela do Lixão. Vendem centenas de milhares de araras anualmente" Um dos grupos de caçadores, segundo as investigações ,era especializado em capturar primatas. No Rio de Janeiro, a caça era feita em pontos como a Floresta da Tijuca; o Horto, no Jardim Botânico; além das matas em Petrópolis e Teresópolis, na Região Serrana. "Eles (caçadores) iam para a Floresta da Tijuca, colocavam alimentos com clonazepam, os filhotes eram capturados e vendidos", explicou o delegado. Tartarugas estavam entre animais vendidos no esquema investigado pela Polícia Civil e o Ministério Público Reprodução 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça TH Joias envolvido Um dos alvos de busca foi o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, TH Joias, preso em outra operação há duas semanas. Thiego Raimundo de Oliveira Santos, o TH Joias, no Sistema Penitenciário do RJ Reprodução Segundo a polícia, ele teria comprado 4 macacos, além de se envolver em outros crimes. "Ele estava também envolvido na compra, aquisição e intermediação de primatas", afirmou o Secretário de Polícia Civil, Felipe Curi. Em um dos diálogos entre criminosos, um deles cita o macaco que estaria em posse de TH Joias: "Filhotão bonito. Macaco não é burro não. Macaco aprende tudo. Vê com os amigos como o bicho está espertão. Vê o do TH Joias como que é." MPRJ denunciou 59 pessoas Alguns dos bichos resgatados na Operação São Francisco Reprodução/TV Globo O Ministério Público, através da promotora Elisa Pitarro, da promotoria de investigação penal da Baixada Fluminense, identificou os municípios de Duque de Caxias e Belford Roxo como de alta incidência dos crimes envolvendo o tráfico de animais silvestres. O MP denunciou 59 pessoas em maio deste ano e pediu a prisão de 51 pessoas. As investigações do MPRJ citaram a existência do esquema em diversos municípios da Região Metropolitana e Região dos Lagos do Rio de Janeiro, dezenas de bairros da capital, além de estados como Bahia, Pernambuco, Sergipe, Goiás e Minas Gerais. As investigações apontaram que os animais eram transportados em péssimas condições. Um homem foi preso em flagrante transportando 163 aves silvestres em sacolas fechadas, com pouco ou nenhum acesso a ar. Outros animais eram levados para ser vendidos em caixas apertadas, pequenas gaiolas e carros lotados. O resultado eram altas taxas de mortalidade devido a sufocamento, calor, fome e maus-tratos durante as longas viagens, inclusive entre estados.