O que se sabe sobre a prisão de Capitão Hunter
Vídeo mostra momento em que influenciador Capitão Hunter é abordado por policiais em casa O youtuber João Paulo Manoel, de 45 anos, conhecido como Capitão ...

Vídeo mostra momento em que influenciador Capitão Hunter é abordado por policiais em casa O youtuber João Paulo Manoel, de 45 anos, conhecido como Capitão Hunter, foi preso na quarta-feira (22) em Santo André, na Grande São Paulo, em uma operação conjunta das polícias civis do Rio de Janeiro e de São Paulo. João Paulo é investigado em um inquérito da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) do RJ por exploração sexual de crianças — crime tipificado como estupro de vulnerável — e produção de pornografia envolvendo adolescente. A investigação partiu da denúncia de uma menina de 13 anos. Ela contou que a vítima começou a conversar com o youtuber pela internet há 2 anos. A família mostrou os bate-papos e vídeos supostamente de Hunter com partes íntimas masculinas à mostra. A prisão temporária de 30 dias, decretada pela Vara Especializada em Crimes contra Crianças e Adolescentes do RJ, foi acompanhada de mandados de busca e apreensão e de quebra de sigilo dos aparelhos eletrônicos do influenciador. “Trata-se de um abusador com elevado grau de periculosidade, atraindo crianças e adolescentes por meio de um perfil mentiroso para que ganhe a confiança dos vulneráveis e passe a assediá-las e coagi-las à prática de atos libidinosos”, afirmou a delegada Maria Luiza Machado. A defesa afirma que as acusações são “absolutamente inverídicas”. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça O youtuber João Paulo Manoel, conhecido como Capitão Hunter, morador de Santo André, no ABC Paulista. Reprodução/Instagram Quem é Hunter Capitão Hunter é um influenciador digital com mais de 1 milhão de seguidores, conhecido por produzir conteúdo voltado ao universo Pokémon — incluindo cartas colecionáveis, bichos de pelúcia e transmissões ao vivo de jogos. Segundo a polícia, ele usava essa popularidade para atrair crianças e adolescentes. Como a polícia obteve provas A investigação reuniu diversos elementos: Depoimento especial da vítima, conduzido por equipe especializada; Prints de conversas e vídeos; Mensagens com conteúdo sexual explícito, onde o suspeito exibia partes íntimas e pedia imagens da menor; Ofícios enviados às plataformas e a operadoras de internet, que confirmaram os IPs e números usados nas conversas. 🔎O endereço de IP (sigla para Internet Protocol) é um número que identifica cada conexão feita à internet, funcionando como uma espécie de “placa de identificação” do aparelho usado em determinada rede. Ele permite rastrear de onde partiu uma comunicação on-line, mesmo que o usuário tente ocultar sua identidade em aplicativos ou redes sociais. Em investigações como a que levou à prisão de Capitão Hunter, o rastreamento do IP é fundamental para confirmar quem estava por trás de um perfil ou conta usada em conversas com vítimas, possibilitando à polícia vincular tecnicamente o autor ao local e aos dispositivos usados nos crimes. Em que plataformas eram travadas as conversas De acordo com o relatório policial, as interações ocorreram principalmente nos aplicativos Discord e WhatsApp. No Discord, o youtuber usava o perfil éhorade, posteriormente excluído e renomeado como “deleted_user_8c7e603b1baf”. No WhatsApp, a conta usada era identificada como “ADM Família Hunter”. A polícia rastreou os endereços de IP e confirmou a origem das conexões no endereço de João Paulo Manoel em Santo André. Como começou o contato A adolescente que fez a denúncia disse ter conhecido o influenciador em 2023, aos 11 anos, durante um evento sobre Pokémon em um shopping no Rio. Ele se apresentou aos pais como alguém disposto a “apoiar a carreira gamer” da menina. As conversas migraram para o ambiente on-line, e, de acordo com o inquérito, passaram a ter conteúdo sexual. O que a menina relatou No depoimento especial, a vítima afirmou que o influenciador mudava de comportamento durante a noite e fazia comentários sobre o corpo dela. Disse que ele abaixava a cueca diante da câmera e pedia para que ela também mostrasse partes íntimas, além de enviar fotos de teor sexual pelo WhatsApp e pelo Discord. O laudo da escuta protegida foi classificado pela polícia como “positivo para abuso”. Como a família descobriu A mãe contou à polícia que começou a desconfiar do comportamento da filha e, ao confrontá-la, ouviu o relato chorando. Para confirmar, iniciou uma conversa com o suspeito nas redes, e ele respondeu por vídeo, exibindo as partes íntimas. A família então procurou a Dcav em setembro, dando início à investigação. Manipulação emocional As conversas anexadas ao inquérito mostram que o investigado dizia frases como “amigos fazem isso, mostram a bunda um para o outro” e “você é minha melhor amiga”. Em outros trechos, Hunter admitia saber que a menina era menor de idade — “isso não muda nada” — e a instruía a apagar mensagens: “É só ir nos três pontinhos, limpar conversa, tira print e me manda”. Segundo a polícia, o youtuber alternava elogios, promessas de presentes e apelos afetivos, numa tentativa de normalizar o comportamento e garantir que as conversas não fossem reveladas. Como a polícia chegou ao investigado A Dcav oficiou o Discord e a operadora Claro para rastrear o IP do perfil. As respostas indicaram conexões feitas a partir da casa de João Paulo Manoel. A conta do WhatsApp usada nas conversas estava registrada em nome da companheira dele, que mora no mesmo endereço. Para a polícia, isso demonstra que o investigado utilizava o telefone dela para se comunicar com a vítima. Polícia Civil do Rio de Janeiro apreende computador do youtuber João Paulo Manoel, de 45 anos, conhecido como Capitão Hunter. Aldieres Batista/TV Globo O que foi apreendido Durante o cumprimento dos mandados, os agentes recolheram 6 celulares, 3 pen-drives e uma CPU de computador. O material será periciado para buscar indícios de outras vítimas ou novos crimes. O que diz a decisão da Justiça Na decisão que decretou a prisão, o juiz Daniel Werneck Cotta destacou que o investigado mantém “contato direto e desvigiado com milhares de crianças e adolescentes” e que sua liberdade poderia permitir “a destruição de provas e a reiteração das condutas”. O magistrado também observou que o youtuber demonstrava conhecimento técnico sobre informática e redes, o que poderia dificultar a investigação caso continuasse solto. Outros possíveis casos sob apuração A Dcav apura se houve trocas de mensagens de teor íntimo também com um menino de 11 anos. Os peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli analisarão os equipamentos apreendidos para identificar novas vítimas. O que diz a defesa O advogado de João Paulo Manoel, Rafael Feltrin, afirmou que “todas essas informações, acusações e imputações são absolutamente inverídicas e serão esclarecidas no momento oportuno”. 🚨Alerta aos responsáveis! Sinais observados neste caso, segundo a polícia: aproximação em eventos voltados a crianças e migração das conversas para chats privados; uso de status de influenciador e de temas infantis para criar confiança; oferta de presentes e prêmios condicionados a “provas de amizade” ou envio de imagens; normalização de pedidos de teor sexual (“amigos fazem isso”); pedidos para manter segredo e apagar mensagens; contato noturno e mudança de tom das conversas. Esses comportamentos, segundo especialistas ouvidos pela polícia, são típicos de aliciadores que exploram a admiração e a vulnerabilidade de crianças no ambiente digital. Pais e responsáveis são orientados a acompanhar o uso das redes e a observar sinais de isolamento, medo ou mudança de humor. Violência e abuso sexual infantil: veja os sinais e saiba como proteger as crianças